quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Coisas do Nordeste.18/11/2008

Portugal. Jaz 10 anos sobre o óbito ao esquartejamento político-administrativo do país.
Estribados nos argumentos de que a Constituição da República de 1976 salvaguardava, princípio que ainda se mantém madraço, a divisão do país em “governos regionais”, avançou-se, de forma destemida, para o bem-aventurado referendo.
Uma exigência apresentada pelo então Presidente transitório do PSD, ao 1º Primeiro-Ministro fugitivo da história do Constitucionalismo Português, pós mês de Abril.
Proposta aceite, resultado consumado…
É irrelevante, para a circunstância do tempo, avocar os argumentos de vilanagem intelectual, que à época formigavam em alguns círculos.
Recordo, todavia, o que mais amiúde era alvitrado: correlação directa entre desenvolvimento económico e regionalização política!
Exemplos abundavam, quais promoções por atacado em qualquer mercearia: Holanda, Alemanha, Bélgica, Espanha, só para citar alguns dos privilegiados.
Não interessava focar o que subjazia à História Política de cada um desses países, evitava-se explicar os condicionalismos históricos que obrigam, de forma perene, os Estados em causa a terem uma divisão política do território bem diferente da nossa.
Interessava, como provavelmente interessará, fazer a intoxicação com argumentos falaciosos, e de candura fonética para tímpanos incautos e mentalidades distraídas…
Volvidos 10 anos, pergunta-se: o sonho regionalista embrenhou-se no manto de Orfeu? Não.
Antes pelo contrário.
A partir daí, assistiu-se (com a cumplicidade de todos os governos, e com excepção de um ou outro caso residual), a um dos princípios sub-reptícios da regionalização a Norte: um poder concentracionário no Porto, desejoso de ostentar uma legião de províncias para lhe dar corpo às provincianas tentações, em oposição a um outrora território muçulmano.
Convinha que alguém lembrasse, que as Cruzadas foram um percurso de outras épocas e outras vontades!
Para que queres a Regionalização? Perguntava a Princesa Trás-os-Montes ao Imperador Porto? Para te absorver melhor, respondeu ele.
E Maria Vitória, acabou-se a História. Bons sonhos!

O segundo Sexo. Assim se chama um livro escrito por Simone de Beauvoir, nos idos anos 40 do séc. XX. Recomenda-se.
Vem à colação a corrente feminista, a propósito da consagrada lei das quotas, que percorrerá com indubitável elegância futuros actos eleitorais.
Submeto-me desde já à apresentação da minha declaração de interesses: não comungo, na esteira da participação activa de cidadãos na política, de qualquer descriminação positiva em função da genética.
Confesso que nos primórdios da discussão da lei das quotas, ao assimilar determinados argumentos “prós”, fiquei com a pesarosa sensação que a corrente dominante da tribo seria basicamente esta: se no passado mandavam as mulheres para a cozinha, agora, pretendem enviar as senhoras para o Parlamento!
Felizmente, que no meio do turbilhão, há sempre alguém que domina o bom senso, donde, que a euforia feminista deu lugar à exaltação do papel feminino, contribuindo desta forma para que a intervenção feminina fosse sendo real (sem eufemismos), e pormenor relevante: desprovida de participações musculadas…
É assim, que em nome dos valores pelos quais pugnam, e sujeitas a uma estrutura intelectual sólida, dá para apreciar… a até agora conhecida, e outra provável, participação feminina em alguns actos eleitorais de 2009, são o mais arrojado testemunho de que a relevância no feminino pode ser fatal, não sendo para isso necessário cair em instintos que nasceram, e salvo recalcamentos, morreram em Maio 1968!...
É genuíno e sabido que, noutros tempos, a intervenção social e política da mulher foi exposta a um trilho de espinhos.
Da mesma forma que o oposto, por razões de mera propaganda, é certo, também se verificou (sugere-se, a laivo de exemplo, a leitura de “O Rosto do Movimento Nacional Feminino)”.
Seja como for, será de bom tom, até para efeitos de auto-estima, recordar alguns episódios que evidenciaram a corajosa participação social no feminino.
Não obstante a distância temporal (400 anos), é líquido que em 2008 esteja sólida a experiência de Lady Winhilsea, que nos finais do séc. XVII, vendo castrados os seus tentos de escritora, desferia assim a sua legítima raiva:
“ai de mim! Uma mulher que se vale da pena
É considerada uma criatura tão presunçosa
Que não tem meio algum de se redimir de seu crime”.
Pois que saibam as mulheres políticas, presentes e futuras, aproveitar o exemplo de Mistress Aphra Behn, senhora oriunda da alta burguesia, que no séc. XVIII desafiando preconceitos, dedicou-se à escrita e passou a ter grandes proventos numa actividade até então monopolizada pela mão do homem...
O futuro dirá, se confrontados com algumas vitórias femininas, a ingenuidade do português idioma não finalizará assim: é de Homem! Perdão, de Mulher…