quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Após 4 anos e meio de pomposa propaganda, a Pátria aparentemente acordou e apercebeu-se que este período legislativo das trevas aconteceu mesmo.
Neste contexto objectivamente draconiano, entre a amálgama do power-point, tele-ponto, pseudo-reformas, criancinhas bem vestidas para darem corpo a algumas cerimónias infanto-juvenis, os mais optimistas não se inibem da sentença: ainda houve tempo para tomar conta dos desígnios da Nação. Mau grado alguns pormenores estratégicos, o Presidente Cavaco estava atento!
Seja como for, há dois pormenores que ressaltam.
Um, de natureza mais comunicacional, outro, mais institucional.
Estribemo-nos no “primeiro”.
Ao longo de 3 anos (sensivelmente), como corolário de antagonismos fratricidas que ameaçavam implodir o PP e o PSD, e na sequência da escalada da domesticidade da imprensa e comunicação social nacional, o Governo Socratino pariu (é o termo) uma impunidade jamais conhecida e ia secando a tosca oposição.
A alternativa a esta letargia ia-se cimentando em torno da Direita (o vocábulo que, à excepção de explicação Freudiana, não se percebe a diabolização sócratina) fora dos canais clássicos.
O Parlamento deixou de ser a arena (se olvidarmos um momento épico) do combate político e transferiu-se para a internet, onde pontificam páginas como o “blasfémias”, o “31 da armada”(que recentemente fez hastear a bandeira monárquica no edifício da Câmara de Lisboa) e, noutra linha, o “do Portugal profundo”.
Iniciativas que saíram fora dos círculos partidários, embora sejam próximos ideologicamente.
Perguntar-se-á se esta “explosão”cibernética é sinal dos tempos. Não, não é!
Na circunstância, tem a ver com um pequeno detalhe: será porventura mais fácil lançar factos políticos numa página que não está sujeita ao juízo acessório de uma administração que se põe a jeito…
No concernente ao elemento institucional, ele consubstancia-se, grosso modo, na diminuição electiva de Deputados em determinados círculos eleitorais.
Bragança, foi um deles (transitou de 4 para 3 Deputados a eleger).
Neste âmbito, se bem me lembro, instintos patrióticos mais regionais esmiuçaram a putativa ofensa do PSD (nacional) em escolher como cabeça de lista um personagem que nada tem a ver com a região.
Uma falsa questão!
Se, simbolicamente, não se nega, é relevante que os Deputados tenham laços umbilicais com o respectivo círculo eleitoral, não deixa de ser verdade que o berço geográfico nunca foi tradição no PSD/Bragança, e desse facto nunca decorreu qualquer prejuízo para o Distrito.
Admito que para o caso concreto, e em abstracto, seria mais reconfortante que um qualquer cabeça de lista justificasse a sua escolha com o argumento de que conhece bem o Distrito porque faz muito turismo de natureza na região! Uma versão mais campestre do argumento de mar utilizado pelo socialista e lisboeta João Soares, cabeça de lista pelo PS no Algarve…
Mas factos, são factos. E importa expurgar as fábulas que se associam à ligação directa terra-candidato.
No plano constitucional, os Deputados representam o País e não o círculo eleitoral. Donde, dizer e pensar-se o contrário, torna-se interessante no campo da metáfora!
Se se quer tomar como regra convincente que o Deputado não é filho da Nação, mas da Região, só há um caminho de verdade: reformule-se, como tem sido aventado há anos, o sistema eleitoral, permitindo (como no sistema anglo-saxónico) a criação de círculos uninominais, onde os escolhidos têm afinidades intrínsecas com os soberanos!
Finalmente, considere-se que, a acreditar nas infantilidades das sondagens (a única e a verdadeira acontece no dia “D”) parece que o eleitorado não se indigna com esta escolha externa.
A razão é simples e empírica: da forma como o sistema está edificado, a orientação de voto do eleitorado é condicionada pela vontade de legitimar um(a) líder partidária como futuro(a) Primeiro(a) Ministro(a), e essa força de mudança só se consegue com o voto numa perspectiva nacional.
Essa é que é essa!

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